Vista-se de si mesmo


Lembro da primeira vez que usei uma saia longa. Eu havia ganhado de uma tia e, bom, a ideia me parecia boa. Colorida e alegre, ela não apenas me servia, como combinava direitinho com o meu novo jeito de me enxergar. Os sobretons dela me possibilitavam muitas combinações e eu hesitava num misto de medo e vergonha. Será que não ficaria extravagante demais? Será que não pagaria mico ao usá-la? Será que eu realmente estava bem nela? 

E quem é que nunca passou por isso não é? Eu poderia tê-la tirado e colocado mais uma vez uma calça jeans e a vida que seguisse na sua mesmice. Mas, naquele dia, pela primeira vez, era eu quem estava me vestindo de mim mesma. Aquela saia por ora estava sendo minha libertação - das calças, das amarras e dos julgamentos -, e, finalmente, uma reconexão com o meu feminino e comigo mesma. 

É engraçado como esse ato foi um divisor de águas em minha vida e na minha autoestima. Me recordo que na minha primeira infância minha mãe me vestia "como uma menininha" e tudo ok. Num segundo momento, também lembro que eu já não me via mostrando as pernas em determinadas ocasiões, e vestidos e saias se tornaram peças apenas para eventos importantes. Por quê? Porque eu tinha vergonha de forjar uma coisa que eu não era. No caso, bonita. Eu não era e não me sentia bonita.

Inconscientemente, era essa minha associação. Somente mulheres extremamente auto-confiantes e lindas tinham esse aval. Sendo assim eu não me permitia usar alguns desses itens. 

E, agora, pergunto: quantas vezes deixamos de nos vestir como queremos por pensarmos desse mesmo modo? Quantas vezes você já se sentiu antiquado em determinada roupa, porque ela não foi feita para pessoa gorda/ magra/ baixa/ alta usá-la? 

Hoje, consigo perceber que a indústria da moda e a sociedade como um todo nos podam por causa de seus estereótipos mesquinhos e excludentes. E, com isso, também se apoderam das nossas escolhas. Mesmo que eu goste de uma blusa mais cavada, de um vestido mais apertado e curto ou seja lá qual item for, vai existir alguém para apontar o dedo e falar: "isso não cai bem em você!". Porém, sabe o que não cai bem mesmo em nós? Uma palavra ou até mesmo esse dedo de outrem julgador sobre o que nós somos ou deixamos de ser perante seus olhos.

Vale a pena aprender a calar aquelas vozes interiores que, durante anos, alimentamos com a nossa falta de habilidade e nossa falsa cegueira em nos auto-amar. Vale muito a pena olhar para si diante do espelho e estar satisfeito por, finalmente, poder sair de uma caixinha que haviam nos colocado. Além do mais, sabe por que também vale a pena? Porque deixar de se auto-flagelar pelos rótulos, nos revela nossa própria face. Isso sim é empoderamento! 

Para além das vestes, quando eu visto uma saia longa, um vestido decotado ou uma blusa mais curta somados às minhas atitudes, eu estou assinando quem sou no mundo. Vestir-se como me sinto é aceitação, auto-amor e afirmação. E eu não permito que me digam o contrário! Espero que você também não.

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