às escuras;



Não preciso dizer, mas para fazer sentido à história, eu conto... Eu gosto quando você apaga as luzes do quarto e com seu jeito costumeiro se apruma do meu lado me fazendo seu travesseiro. É, daquele jeito distraído em que uma conchinha me permite que o meu corpo a ti se aninhe, que suas pernas se entrelacem com as minhas e sua voz e respiração ficam tão próximas ao meu ouvido que por um momento parece que somos um. Eu gosto mesmo, sabe. Porque, dessas proximidades, às escuras nossas conversas ganham outro tom. O não-ver nos faz revelar outros rostos, a dar razão para outras vozes em antigas e novas histórias. Nos dá liberdade para curar os malditos silêncios, a estancar feridas ainda expostas, a cuidar de sentimentos mal cicatrizados e a silenciar quando não há mais nada o que sentir ou por sentir demais. Mesmo sendo gente grande que ainda tem medo desse negrume que habita o seu quarto, é com você que eu desbravo os meus e os nossos monstros na escuridão. Porque, no fundo, a gente só precisa que o outro seja com amor uma luz, um clarão. Uma voz, um ombro, um tato amigo que nos ajude a atravessar essa vida que nos grita lá fora com sua imensidão.

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